Morreu, às 2h35 da madrugada desta segunda-feira (21), pelo horário de Brasília, o papa Francisco, aos 88 anos. O anúncio foi dado diretamente da Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano.
“Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, iniciou comunicado, informando o horário da capital italiana.
Ainda segundo anúncio do Vaticano, Francisco atuou com os valores do Evangelho “com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados”.
Papa Francisco passou mais de cinco semanas internado no Hospital Gemelli, em Roma, para o tratamento da pneumonia nos dois pulmões.
“Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, diz texto divulgado pelo Vaticano.
Anúncio da morte
Na Casa de Santa Marta, às 9h45 da manhã, o Cardeal Kevin Farrell, Camerlengo da Câmara Apostólica, ficou encarregado de fazer o anúncio sobre a morte de Papa Francisco.
“Caríssimos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que comunico o falecimento do nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Sua Igreja”, afirmou o cardeal.
“Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo de verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, encomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Uno e Trino”, completou.
Última aparição
No domingo de Páscoa (20), o pontífice fez a última aparição pública, na sacada da Basílica de São Pedro, para a mensagem de Páscoa Urbi et Orbi.

Durante o evento, o papa aproveitou para reiterar seu apelo pelo cessar-fogo imediato em Gaza. Por conta da saúde do pontífice, a mensagem em prol do fim da guerra foi lida por um assessor.
No texto, o papa chamou a situação em Gaza de “dramática e deplorável”. O documento também pede ao grupo militante palestino Hamas que liberte os reféns restantes e condenou o que chamou de “tendência preocupante” de antissemitismo no mundo.
“Expresso minha proximidade aos sofrimentos de todo o povo israelense e do povo palestino”, destacou, na mensagem. “Faço um apelo às partes em conflito: declarem um cessar-fogo, libertem os reféns e venham ajudar um povo faminto que aspira a um futuro de paz”, completou.
Quem foi Papa Francisco
Jorge Mario Bergoglio nasceu em 1936, no bairro Flores, em Buenos Aires, Argentina. Foi o 226º papa da história da Igreja Católica e o primeiro pontífice não europeu em 1.200 anos, além de ser o primeiro papa vindo da América Latina.
Os avós, imigrantes italianos, chegaram à Argentina em 1927 com seus seis filhos, incluindo Mario, o pai do futuro papa. Mario José Bergoglio trabalhava como contador na ferrovia, enquanto sua mãe, Regina Sivori, era dona de casa e responsável pela educação dos cinco filhos.
A influência religiosa de Jorge veio principalmente de sua avó paterna, presença constante em sua infância. Aos 15 anos, ele já ajudava a preparar colegas para a Primeira Comunhão. No entanto, a vocação para o sacerdócio surgiu aos 17 anos, após concluir um curso técnico em química em 1957.
Formação e início da vida religiosa
Optando pelo caminho do sacerdócio, ingressou no seminário diocesano de Villa Devoto e, em 1958, entrou para o noviciado da Companhia de Jesus. Nesse período, contraiu uma grave doença respiratória e precisou remover parte do pulmão.
Após completar os estudos humanísticos no Chile, voltou à Argentina e, em 1963, obteve a licenciatura em Filosofia no Colégio São José, em San Miguel. Entre 1964 e 1966, foi professor de Literatura e Psicologia em colégios católicos. Em seguida, estudou Teologia e se licenciou na mesma instituição.
Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote pelo arcebispo Dom Ramón José Castellano. Nos anos seguintes, aprofundou sua formação na Espanha e, em 1973, fez a profissão perpétua na Companhia de Jesus. Ainda em 1973, tornou-se provincial dos jesuítas na Argentina, cargo que ocupou por seis anos.
Ascensão na Igreja
Em 1986, Bergoglio passou alguns meses na Alemanha para finalizar sua tese de doutorado. Já em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, em 1998, tornou-se arcebispo primaz da Argentina.
Como arcebispo, destacou-se pelo trabalho pastoral voltado para as comunidades pobres, denunciando injustiças sociais e econômicas. Morava sozinho em um apartamento simples, com uma rotina disciplinada que começava às 4h30 e terminava às 21h.
Em 2001, foi nomeado cardeal pelo papa João Paulo II. Seis anos depois, esteve no Brasil para a 5ª Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida, durante a visita do papa Bento XVI.
Eleição ao papado
Após a morte de João Paulo II, em 2005, Bergoglio foi o segundo mais votado no conclave, ficando atrás apenas de Joseph Ratzinger, que assumiu como Bento XVI.
Com a renúncia de Bento XVI em 28 de fevereiro de 2013, iniciou-se o processo para a escolha do novo pontífice. Em 13 de março daquele ano, após cinco votações, Bergoglio foi eleito papa e apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para saudar os fiéis.
O significado do nome Francisco
Ao escolher o nome Francisco, o novo papa homenageou São Francisco de Assis, destacando sua simplicidade e compromisso com os pobres.
Primeiro papa latino-americano, primeiro jesuíta a ocupar o cargo e o primeiro a adotar esse nome, Francisco rejeitou o luxo do Palácio Apostólico e optou por viver na Casa Santa Marta, reafirmando seu compromisso com a humildade e a justiça social.
Ainda em 2013, participou da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, evento que reuniu mais de um milhão de jovens.
O papa das canonizações
Durante o pontificado, Francisco se tornou o maior canonizador da história da Igreja Católica, com mais de 900 canonizações e mais de 1.000 beatificações. Para efeito de comparação, Bento XVI canonizou 45 santos e beatificou 371 em quase oito anos de pontificado.
Além disso, Francisco realizou diversas viagens missionárias, visitando países ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Produziu centenas de discursos, cinco exortações apostólicas, três encíclicas, além de constituições apostólicas, cartas e mensagens.
Na geopolítica, Francisco foi peça-chave na retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, rompidas desde 1961 e restauradas em 2014. O pontífice intermediou conversas entre os dois governos por 18 meses.
Outro grande legado de seu pontificado é a valorização da sinodalidade, enfatizando a participação ativa dos fiéis na vida da Igreja.