A economia global iniciou 2025 numa situação de tensões protecionistas e de instabilidade financeira gerada pela nova administração do presidente americano Donald Trump. Os riscos de um colapso no comércio internacional e de desaquecimento econômico global exigem imediatas ações anticíclicas por parte das lideranças das economias mais responsáveis, de modo a impedir o caos e superar as turbulências. Nesse contexto complexo e desafiador é que a China adotou medidas financeiras e fiscais para preservar o seu crescimento econômico. As novas medidas tomadas pela China constituem um esforço concentrado para estabilizar a economia, oferecendo apoio aos setores sob intensa restrição financeira e ajudando o país a enfrentar a persistente incerteza global.
De fato, neste ano, ao contrário do que defendem os arautos do Neoliberalismo, a China se comprometeu a aumentar o gasto público, elevando a relação déficit/PIB para 4% e fixando o déficit do governo em 5,66 trilhões de yuans (US$ 786 bilhões), o nível mais alto dos últimos anos. Para financiar o déficit fiscal, o Governo Central da China planeja emitir 1,3 trilhão de yuans (US$ 180,5 bilhões) em títulos especiais do Tesouro de longo prazo, acima da marca de um trilhão de yuans em 2024, juntamente com mais 4,4 trilhões de yuans (US$ 606 bilhões) em títulos para fins especiais por parte dos governos subnacionais. Os recursos captados pela emissão de títulos públicos no mercado financeiro estão sendo rapidamente canalizados para estímulo à demanda do consumidor e para acelerar os investimentos em infraestrutura e subsídios a pessoas em dificuldades. Esse vigoroso impulso fiscal e financeiro antecipado reforça a estabilidade no curto prazo e deixa uma margem de manobra para novas emissões de títulos do Tesouro de longo prazo e medidas de apoio de capital para os bancos estatais durante este ano atípico.
Como tudo na China as medidas adotadas no corrente ano se inserem segundo um planejamento estatal abrangente e focado em resultados. As medidas financeiras em execução para estimular o crescimento econômico refletem as diretrizes adotadas na sexta conferência de trabalho financeira realizada em outubro de 2023. A Conferência trata-se de uma reunião de mais alto nível do setor financeiro da China, e suas políticas de estabilidade financeira em áreas como regulamentação e reforma institucional têm enorme importância para o desenvolvimento de longo prazo do setor financeiro chinês.
Tendo fornecido respostas para as principais questões sobre a teoria e a prática do desenvolvimento financeiro chinês, o presidente Xi Jinping expôs em discurso na citada conferência o seu pensamento econômico sobre o assunto, marcando uma inovação na Economia Política Marxista em relação às questões financeiras e fornecendo diretrizes importantes para promover o desenvolvimento de alta qualidade do setor financeiro na nova conjuntura de desenvolvimento da China, orientando as regiões e órgãos governamentais a seguir a instrução de otimizar os serviços financeiros, promover a abertura financeira de alto padrão e impulsionar constantemente o processo de internacionalização da moeda chinesa.
A conferência de trabalho financeira delineou vários pontos e propostas importantes para a direção futura do setor financeiro da China, a saber: fortalecimento da liderança centralizada e unificada da conferência de trabalho financeiro, acelerar a construção de um sistema financeiro moderno com características chinesas, as finanças devem fornecer serviços de alta qualidade para o desenvolvimento econômico e social, concentrar esforços para modernizar as instituições financeiras e os sistemas de mercado, promover uma abertura financeira de alto nível, fortalecer integralmente a regulamentação financeira, prevenir e resolver riscos financeiros de forma eficaz, e aprimorar a gestão macroprudencial do financiamento imobiliário. O tratamento criterioso e detalhado desses pontos pelas autoridades chinesas visa a modernizar e abrir o sistema financeiro do país, tornando-o mais eficiente, estável e integrado ao mercado global. Essas reformas são, em última análise, para facilitar o acesso ao crédito, promover a inovação financeira, atrair investimentos estrangeiros e fortalecer a internacionalização da moeda nacional. Além disso, elas buscam melhorar a qualidade da supervisão e da regulação do setor financeiro, reduzir riscos e criar um ambiente mais favorável ao crescimento econômico sustentável. Em suma, o objetivo é transformar o sistema financeiro chinês num instrumento eficaz e eficiente para apoiar melhor o desenvolvimento econômico do país e sua adequada integração ao cenário mundial.
As reformas financeiras chinesas na forma acima indicada têm tido um impacto global significativo. Elas ajudam a integrar a China mais profundamente na economia mundial, facilitando o comércio e os investimentos internacionais. Com a abertura de segmentos financeiros para investidores estrangeiros e a modernização do sistema financeiro, o país se torna um participante ainda mais confiável e eficiente no mercado global. Além disso, a internacionalização do yuan, impulsionada por essas reformas, oferece uma alternativa crescente às moedas tradicionais como o dólar e o euro nas transações comerciais e financeiras transfronteiriças, o que poderá influenciar no futuro as dinâmicas do comércio e das finanças internacionais. Essas mudanças também incentivam outros países emergentes a adotarem medidas semelhantes, em especial no âmbito do BRICS, promovendo assim uma maior estabilidade e inovação no sistema financeiro global.
Para fortalecer o sistema de pagamentos, a China desenvolveu plataformas digitais, como o Alipay e o WeChat Pay, que facilitam transações rápidas e seguras tanto no varejo quanto em negócios internacionais. Além disso, o governo tem incentivado a inovação tecnológica no setor financeiro, promovendo a inclusão financeira, a adoção de pagamentos móveis e a modernização dos sistemas bancários. Essas ações ajudam a aumentar a eficiência, reduzir custos e ampliar o acesso aos serviços financeiros. Quanto ao uso do yuan no comércio internacional, a China fez acordos de swap cambial com outros países, o que estimulou a inclusão do yuan como divisa de reserva na carteira de bancos centrais estrangeiros e a promoção de investimentos em yuan por empresas estrangeiras. Além disso, a China tem incentivado o uso do yuan em projetos de infraestrutura e comércio global, como na grande Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), o que aumentou ainda mais a sua presença no mercado internacional de moedas.
Por fim, cabe mencionar que a China ainda não possui um sistema de pagamento internacional sucedâneo ao SWIFT, que é uma rede global ocidental usada para transferências bancárias internacionais. No entanto, ela desenvolveu alternativas próprias para facilitar transações internacionais em yuan. Um exemplo é o sistema CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), que foi criado para apoiar o uso do yuan no comércio internacional e na transferência de fundos entre países. O CIPS funciona como uma plataforma que conecta bancos e instituições financeiras, permitindo transações em yuan de forma mais eficiente, rápida e segura. Embora não seja exatamente um substituto do sistema SWIFT, o CIPS representa uma alternativa e um passo importante da China para fortalecer sua infraestrutura de pagamentos internacionais e promover o uso de sua moeda globalmente.