Ainda hoje é possível encontrar mãe da lua empoleirada em uma estaca à beira do caminho, nas desertas estradas do interior do Cascavel, bem depois da ponte do Rio Choró, ou pousada em uma carnaubeira, escondida entre as palmas secas, emitindo seu gemido, chamando por João, seu grande amor que foi embora.
A mãe da lua foi uma moça, há muitos anos, solteira que procurou um pretendente a todo custo, disposta a qualquer coisa. Não era bela e viu com tristeza suas irmãs casarem enquanto ela ia ficando no canto. Foi então que certa vez uma senhora bateu-lhe à porta e disse saber de sua aflição:
– Minha jovem, posso trazer-te um marido. Mas terá que ser minha criada por sete anos.
Sem acreditar nas palavras da velhinha e sem a menor intenção de honrar sua palavra, aceitou a proposta.
– Daqui a três luas, na terceira hora, quando o galo tiver cantado por três vezes seu futuro marido baterá à porta pedindo por água. O amor será imediato, casarão em três dias, terão três filhos e serão muito felizes.
A velhinha foi embora e a moça se esqueceu do acontecido, até que três meses depois, às três da madrugada, depois do galo haver cantado três vezes, bateram-lhe à porta. A moça com muito medo chamou seu pai para abri-la. Era um garboso rapaz que tomado por louca sede pedia um gole d’água. Quando os dois jovens cruzaram o olhar, sem nem mesmo se importar com a feiura da moça, apaixonaram-se. Dali, casaram-se em três dias e tiveram três filhos.
Os anos se passaram, a moça, agora adulta, nem mais se recordava da velhinha. O rapaz se tornou um bom homem que lhe tratava com muito respeito e carinho.
Certa vez, a mulher ouviu chamar à porta da sala.
– Oh, de casa.
-Oh, de fora – respondeu a mulher desde lá da cozinha.
– Uma sede d’água para uma velha sem criada.
A mulher levou uma cabaça de água fresca, mas quando viu a velha a reconheceu na mesma hora. Só então, se lembrou da promessa de ser criada dela por sete anos.
– Vim te buscar para minha casa. Para ser minha criada.
– Mas e minha família? Não posso deixá-los só!
– Teus filhos já estão grandes, teu marido não se aborrecerá e, ademais, poderá voltar todo final de semana. Garanto-te, será ainda mais feliz.
No entanto, sem nenhuma disposição para trabalhar para a velha, expulsou-a de sua casa e bateu-lhe a porta. A velha, enfurecida, gritou:
– Daqui a três luas, na terceira hora, quando o galo cantar por três vezes, te transformarás em um feio pássaro e tudo que te dei será tirado.
E assim foi feito, a mulher se transformou em um pássaro feio, de enorme bico e esbugalhados olhos dali a três luas, na terceira hora, quando o galo cantou por três vezes. Seu marido, achando que havia sido abandonado por sua esposa, foi embora dali com seus filhos, para nunca mais voltar.
Até hoje, encontramos a mãe da lua chamando por seu marido:
– Joããããão… Joããããão… Joããããão…
Emitindo seu canto que mais parece um triste chamado por João, seu marido que foi embora.
[Milson Almeida. A Mãe da Lua. In: A Serra da Mataquiri, o Rio Malcozinhado e Outras Histórias. 2. ed. Fortaleza: Premius, 2018, p. 73-75. Ilustração: Wescley Barros Borges – colorização: Hugo Cavalcante]