Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro desde 2018, a literatura de cordel versa tradições em métrica e rima. Oferece sonoridade para os acontecimentos cotidianos que se tornam extraordinários, guarda e reconta os fatos de certa maneira que somente uma manifestação brasileira – com influências árabes, africanas e europeias – poderia fazer. Segue, a partir da alcunha de grandes como Patativa do Assaré (1909 – 2002), traduzindo a vida em poesia e gravura.
A linguagem, assim como as demais vertentes literárias, resiste aos dilemas contemporâneos e busca expansão num contexto que cede cada vez mais ao digital. Conseguir conectar e propagar o gênero é um dos propósitos da Feira do Cordel Brasileiro, cuja sexta edição acontece na Caixa Cultural Fortaleza entre os dias 26 de julho e 3 de agosto.
Criado em 2017, o projeto é retomado após pausa causada pela pandemia da covid-19. A edição reúne músicos, poetas e pesquisadores com o objetivo de dar visibilidade às distintas formas de expressão do setor. Também são homenageados como convidados os mestres Geraldo Amâncio, Adiel Luna, Bule-Bule, Antônio Nóbrega, entre outros.
“(A feira) retoma com força trazendo grandes nomes da cultura tradicional popular, de artes que dialoguem com o gênero literário literatura de cordel”, explica o curador e cordelista Klévisson Viana ao detalhar o planejamento por trás do evento, realizado em 2025 por meio da Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (Aestrofe).
De acordo com o organizador, o calendário contribui para a “difusão e consolidação” da linguagem em múltiplas gerações. “Estamos trazendo uma programação de altíssimo nível para toda a família, inteiramente gratuita e livre para todos os públicos”, acrescenta. “A programação está recheada. Vamos ter no palco Anthony de Feitosa, um garotinho de sete anos, e o Chico Pedrosa, que tem 90 anos e é o maior declarador vivo do País”, pontua.
O momento mencionado por Klévisson, dividido com a cordelista Rosinha Miguel, é um dos recitais que compõem a programação composta por oficinas, debates e apresentações. Dentre as ações, o curador destaca a exposição de mais de 30 artistas, com centenas de obras. Uma das participantes é a mestra Josenir Lacerda, artesã e poetisa desde a infância no Crato, município distante 543 km de Fortaleza.
Com uma produção definida como “vasta, profunda e diversificada”, a cordelista busca inspiração no cotidiano e preza pelo papel educativo e social que a cultura deve exercer. Uma das idealizadoras do museu social Cordel e Arte, na região do Cariri, explica que a expressão tem como base a comunicação simples que consegue atingir todo e qualquer público.
É assim, portanto, que o gênero aborda temas sociais. “Sua atuação reflete esse contexto social, visto que ele atua como valiosa ferramenta e veículo educativo, esclarecedor, denunciador e formador de opinião. Segue como sempre foi, voz e escuta do povo que nem sempre tem chance de se manifestar”, defende.
Eventos como a Feira do Cordel Brasileiro entram no leque de formas para manter a prática, assim como editais, associações e produções individuais com recursos próprios. Para ser cordelista, segundo Josenir, é necessário “assumir papel de missionário da cultura” e perpetuar, especificamente acerca do cordel cearense, o “jeito leve e criativo” de se comunicar.
Literatura de cordel
O título mencionado no início da matéria foi concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) e certifica o gênero literário, composto por narrativas impressas em folhetos. Com versos caracterizados pela rima, métrica e oração, os textos são comumente ilustrados com xilogravuras e, originalmente, eram expostos em cordas finas.
6ª edição da Feira do Cordel Brasileiro
- Quando: 26, 27, 31 de julho e 3 de agosto
- Onde: Caixa Cultural Fortaleza (av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
- Gratuito
- Programação completa, com atrações e horários, pode ser conferida em www.caixacultural.gov.br